Algumas vezes recebo a seguinte pergunta de um cliente: “-O que está na moda hoje?” Confesso que essa é uma questão um pouco difícil de responder. Como nos posicionarmos frente a moda e as tendências?
Moda e arquitetura andam juntas, pois uma pode refletir a outra. E muito influenciar. Mais ai cabe uma reflexão: A função do arquiteto é ordenar o espaço físico, para atender uma série de requisitos. O primeiro é o de resolver as necessidades de morar do cliente dando uma função a cada ambiente ou espaço. Após, ou concomitante, vem a preocupação com a sua exequibilidade ou melhor, como deverá ser construída. Escolher materiais e a técnica a serem utilizadas para a edificação virar realidade.
O arquiteto projetista irá trabalhar com valores que são comuns a sociedade. Podemos chamar esses valores de utilitários. Valores que estão ligados a vida moderna, como o modo de organização de uma casa, devido a utilidade para seu usuário e sob o ponto de vista da sociedade. Esses valores sofrem uma mutação conforme a sociedade evolui nas suas necessidades e também como encaram as coisas de modo geral. Visão de mundo.
Para o arquiteto Edgar Graeff, em seu livro o edifício, os valores utilitários são extremamente transitórios. Fato facilmente constatado nos dias de hoje. Basta pegarmos só o exemplo do automóvel e sua presença em nossas moradias num espaço de tempo não maior que quarenta anos.
No campo das relações sociais, acrescenta Graeff, as cozinhas modernas evoluíram com as novas condições da vida social que atraíram o trabalho feminino para fora de seus lares.
A moda vem com a indústria e chega até nós pela mídia. Novas ideias surgem e, com o tempo, se transformam em necessidades. Está carregada de valores de toda ordem e não pode de forma alguma ser ignorada.
O arquiteto, nesse caso, deve agir com sensibilidade para interpretar os desejos do cliente e seu grau de ligação com o mundo exterior. Quer dizer, a percepção do profissional deve estar bem apurada para considerar as tendências modernas sem, contudo, descaracterizar a identidade que o espaço construído terá com seu habitante.
As tendências, como o próprio nome indica são passageiras, porém é através dessa transitoriedade que a arquitetura pode falar. A construção pode ser lida através de suas cores, detalhes e estilo, revelando um pouco da personalidade de seus ocupantes.
Saint-Exupery diz em seu livro Cidadela: “E o homem, na verdade, tem a necessidade de paredes para se enterrar entre elas e tornar-se como semente. Mas também necessita ele da grande via láctea e da extensão do mar”… Essas palavras ilustram a idéia de que a arquitetura sem emoção é menos arquitetura, é menor.
Podemos tirar da moda tudo o que ela pode dar de melhor a um bom projeto. Cabe ao arquiteto brincar com a tradição, tendências, os valores atuais e os antigos para criar uma boa arquitetura.