Todos os anos nos grandes feriados nacionais é feito um balanço do elevado movimento nas estradas em todo território nacional. Esse ano no carnaval não foi diferente, acusando uma grande movimentação de veículos e um aumento considerável no número de acidentes amplamente divulgado nos meios de comunicação.
Através da televisão, assisti a entrevista de um policial rodoviário justificando o grande número de atropelamentos devido a imprudência dos pedestres que não utilizavam a passarela para cruzar a uma determinada rodovia. De fato, a imprudência está presente na maioria dos acidentes de trânsito. Podem-se citar outros componentes que podem levar a um desastre automotivo como falhas mecânicas, falhas humanas por decisões precipitadas e também por problemas nas vias como imperfeições na pista e ausência de sinalização. Poderíamos incluir nessa lista ainda os subdimensionamento das vias, pois o crescimento da frota de veículos não vem sendo acompanhado pelo aumento da capacidade das estradas. O traçado antigo das vias, projetadas e construídas quando o automóvel alcançava velocidade média de sessenta quilômetros por hora também pode ser apontado como potencial agravadora nas situações de conflito.
Para o caso dos atropelamentos entendo existir mais um item nessa lista: rodovias que cortam cidades. Cidade e rodovia podem conviver lado a lado desde que se tomem alguns cuidados urbanísticos, porém não é aconselhável que uma estrada cruze uma concentração urbana. Encontramos em muitas cidades brasileiras essa situação o que resulta grandes conflitos. Em todos os casos, a estrada estava implantada antes da cidade. É um grande erro permitir que a cidade ocupe os dois lados de uma rodovia.
Um simples ato de planejamento pode evitar que a cidade venha se expandir para além de uma estrada. Quando participei da elaboração do Plano Diretor de Toledo nos anos 93 e 94, sugeri que o município não permitisse a expansão urbana para o outro lado da BR 467, o que foi acatado. Entendia como entendo até hoje, que esse tipo de conflito custa muitos recursos humanos e exige depois enorme esforço financeiro na tentativa da reparação. Anos depois, com a duplicação da Toledo-Cascavel, dois terços do custo total da obra foram gastos para o trecho e viadutos da cidade de Cascavel na tentativa de solucionar o problema crônico de atropelamentos. Lá, como é sabido por todos, a cidade ultrapassou a estrada, ocasionando sérios conflitos, principalmente no trânsito.
O planejamento deve funcionar como um antecipador para possíveis conflitos. Muitas vezes atos simples economizam muitas vidas e milhões em recursos financeiros, minimizando inclusive as inevitáveis imprudências.