A cidade como conhecemos hoje é um advento muito recente. A história pode apontar-nos belos exemplos como Atenas e Roma, ambas com mais de dois mil anos, porém mesmo constituindo-se em aglomerações urbanas, não podemos compará-las às cidades atuais devido ao altíssimo grau de complexidade de funções e atividades que estas possuem atualmente. A vida moderna transformou a cidade no centro geográfico da região onde está situada. Somente no Brasil mais de oitenta por cento da população vive nos centros urbanos, enquanto que em menos de um século atrás a situação era exatamente a inversa, em favor do campo. Mudou-se o modo de ocupar o espaço, ou seja, como as pessoas vivem e trabalham sobre um pedaço de terra. Esse câmbio aconteceu devido às profundas transformações sociais conduzidas pelas mudanças no âmbito econômico ao longo do tempo. Antes uma única classe social ditava as normas para todo o conjunto da sociedade. Existia uma atividade econômica principal e todas as outras que não eram muitas, tinham importância secundária. Por conseguinte, a estrutura social era mais simples, estratificada em duas ou três camadas. Esta estrutura social e econômica simplificada resultava em uma “estabilidade” maior no gosto e nas tendências populares, como estilos arquitetônicos e artísticos. A sociedade de antes vivia sobre o mesmo credo religioso, o mesmo pensamento econômico, menos numerosa e movia-se de forma muito lenta propiciando assim um produto cultural mais uniforme e puro no que diz respeito a suas características formais e também de conteúdos.
Atualmente com o multiculturalismo de nossa sociedade aliada à vertiginosa velocidade com que as transformações chegam até nós, podemos entender porque não existe um estilo contemporâneo para as artes, música e a arquitetura. Para agravar essa situação, muitos edifícios usam elementos de velhos estilos ou revisitam estilos do passado, porém com técnicas construtivas modernas o que faz gerar um descompasso entre a técnica e a arte. As incoerências dessas ações resultam em revivalismos que empobressem ainda mais nossa arquitetura. A arquitetura, assim como as artes, sempre refletiu o pensamento dominante de suas épocas, o que não acontece em nossos dias. A falta de síntese que percebemos nos trabalhos atuais, respondem talvez à falta de clareza do pensamento humano atual. Não um pensamento focado em ser ou estar indo a algum lugar como um corpo social e sim um pensamento embasado em aspirações individuais.
É provável que esse seja um dos motivos de não encontrarmos nas cidades atuais a unidade estética e formal que possuíam Atenas e Roma. Seus edifícios falavam a mesma língua, o que não acontece nas cidades contemporâneas, sobretudo nas nossas. A arquitetura atual pode ter linguagens modernas esboçando algumas tendências, porém não tem um estilo que a identifique como moderna ou de estilo próprio.