NÓS E O MAR

            Muitas vezes saímos do nosso país em busca de locais novos, outros povos, cidades e arquiteturas diferentes da nossa. O que não impede de conhecermos um pouco de nós e do nosso Brasil lá fora. Foi o que experimentei quando estive na Bolívia anos atrás.

            País interessante e muito exótico, não guarda muita semelhança com o nosso, mas é lá que tem início a história de um dos locais mais conhecido do Brasil. Próximo ao misterioso Lago Titicaca localiza-se a Vila de Nossa Senhora de Copacabana, localidade que emprestou seu nome à mundialmente famosa praia do Rio de Janeiro.

            Minha surpresa foi grande ao descobrir que o nome da praia carioca tem origem na pequena vila. Das altitudes do altiplano boliviano para o litoral brasileiro. O fato deveu-se a uma imagem de Nossa Senhora trazida da Bolívia para uma igrejinha em uma praia, então deserta, na antiga capital brasileira.

            Narro essa história para ilustrar que nem sempre as coisas que nos são caras hoje, foram tempos atrás. As praias e orlas não possuíam a atratividade e valor que hoje lhes atribuímos. Caso contrário a igrejinha e a santa não iriam parar na badalada orla carioca. Nos dias de hoje é privilégio de poucos possuir imóveis com sacada de frente para o mar. Sabemos ainda que um dos metros quadrado mais caros do Brasil localiza-se justamente nessa praia.

            Mas nem sempre foi assim. Até o início do século vinte, os balneários, como eram conhecidas as praias, não despertavam o interesse imobiliário. A sociedade observava com mais interesse a vida social do que um belo visual natural. Encontramos mais provas disso em outra cidade litorânea, aqui no Paraná. Antonina, típica cidade com influência portuguesa, está organizada ao redor da praça principal. Mesmo tendo a baía ao alcance dos olhos, todas as construções do centro histórico estão voltadas para a referida praça, ou seja, a vida social local.

            A mentalidade dominante na sociedade daquela época não valorizava o mar, nem seu belo visual, como faz a nossa atualmente. Os interesses provavelmente eram outros e esse comportamento refletia-se no valor da terra. Quanto mais próximo ao centro dos acontecimentos, no caso a praça, localizada sempre em local mais alto como mandava a tradição portuguesa de implantação de cidades, mais valorizado seria o imóvel. Quanto mais próximo da praia, mais barato. As construções praticamente davam as costas a paisagem litorânea.

            Os comportamentos e os interesses são mutáveis com o passar dos anos. Ainda bem que perduram algumas cidades como Antonina e a pequena Copacabana. São testemunhos vivos de nosso passado, petrificados na arquitetura das construções e das cidades. Percebemos através do espaço físico construído, as alterações que o homem fez com o passar do tempo.

            A Copacabana das altitudes andinas e a do litoral são bem diferentes hoje. Semelhança só no nome. Pessoalmente, gosto da denominação de origem Inca, caso fosse hoje o batismo, provavelmente o nome da praia fluminense seria de origem inglesa, ou uma Copabeach qualquer coisa.

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AUTOR

Ricardo Sardo

Ao longo da minha carreira, aprendi que a arquitetura é muito mais do que linhas e formas; ela é sobre conectar pessoas a espaços e criar ambientes que ressoem com suas almas.

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