Na arquitetura e na música encontramos muitos exemplos de modelos retirados da natureza. Oscar Niemeyer sempre disse que busca inspiração nas montanhas do Rio de Janeiro e nas curvas femininas para a sua arquitetura. Muitos de seus trabalhos espalhados por todo o mundo possuem formas sinuosas como o edifício Copan em São Paulo, confirmando as palavras do mestre brasileiro. O prédio com enormes dimensões, o qual abriga uma numerosa população, destaca-se na paisagem paulistana por suas curvas simples e bem marcadas. As linhas sinuosas de sua fachada geram um efeito de movimento em meio aos monolitos insossos que o rodeiam.
O arquiteto espanhol Santiago Calatrava, inspira-se na estrutura de animais, como grandes ossadas, para dar forma em algumas de suas obras. O grande terminal ferroviário criado por ele nos anos 90 em território francês, parece mais o esqueleto de um animal pré-histórico.
Na música, o uso de sons naturais para compor parte de uma melodia é bem mais freqüente. O grande Beethoven produziu a célebre sinfonia Pastoral com a intenção de reproduzir sons da natureza. A sexta de suas nove sinfonias, possui em seu segundo movimento uma impressionante interpretação do músico alemão sobre os sons da água de um riacho. A beleza desse movimento está não só no resultado estético sonoro como também na original percepção do músico em estabelecer uma linguagem musical própria e não uma simples imitação do som natural. Repetiu o êxito no quarto movimento quando interpreta uma tempestade, nessa mesma obra musical, culminando com a bonanza através de uma melodia que transmite suavidade e vida. Para mim, Pastoral de Beethoven é emblemática não só por sua beleza, mas também por demonstrar que um artista pode se apoiar em modelos vivos ou abstratos para criar sua arte.
A tempestade é interpretada em outras obras como na Suite Grand Canyon de Ferde Grofé. O músico faz ainda referência a um trote de burro utilizando instrumentos de sopros e cordas na mesma composição.
O Trenzinho Caipira do nosso Heitor Villa Lobos, procura aproximar bastante o som da orquestra ao som de um trem movido a carvão em movimento. Diferente das Quatro Estações do Padre Antônio Vivaldi, onde primavera, verão, outono e inverno são abstrações, geniais, porém abstrações do próprio Vivaldi.
Como arquiteto também já usei mão de figuras reais e abstratas para me ajudar na concepção de uma obra. A obra que me refiro é uma igreja católica a qual foi dedicada a Santíssima Trindade a pedido do pároco. A pomba, representando o Espírito Santo, a luz e a cruz representando o Pai e o Filho respectivamente, estão presentes em todo o edifício. As formas aparecem de modo estilizados, de maneira discreta mas bem caracterizadas.
Entendo ser um modo válido o de utilizar elementos naturais ou abstratos do imaginário humano para conceber arte, música e arquitetura.
São apenas modelos, pontos de partida para dar suporte a uma nova obra. O artista percebe e interpreta, a seu modo, algo que exista e todos conhecemos. Como disse o poeta Mário Quintana: _ “O poeta não inventa nada, as coisas estão ai para todos nós vermos, quando enxerga com outros olhos, vira poesia”.