Qual o tamanho ideal de uma cidade? Essa dúvida sempre acompanhou os mais renomados urbanistas. O crescimento vertiginoso das cidades desde que o capital passou do campo para as aglomerações urbanas com a Revolução Industrial, fez surgir uma leva de pensadores que começou a se ocupar com os problemas urbanos. Algumas teorias desses especialistas tentavam limitar a dimensão das cidades. Esses primeiros urbanistas, também chamados de utópicos, trataram a cidade como algo estático, como um modelo matemático. A utopia de demarcar os limites de uma cidade não se realizou porque ela, a cidade, está viva e é formada por pessoas. Pessoas tem interesses e são os mais diversos. São os interesses que movem uma cidade. Interesses que se transformarão em moradias, locais de trabalho, de lazer e de capacitação. Estarão em constante movimento, por isso ruas e meios de transporte conduzirão milhares ou milhões de interesses pessoais ou coletivos. Existirão interesses pessoais ou de um segmento social que irão sobrepujar muitos outros. Uma cidade bem estruturada busca equilibrar as forças dos mais diversos segmentos.
Claro, já foi dito que o espaço construído não garante igualdade entre os habitantes, mas, nesse caso, pode ajudar muito. Um centro urbano com um sistema de transporte bem resolvido, com equipamentos urbanos bem distribuídos ao longo da cidade e uma infra-estrutura que atenda a todos, pode-se dizer ao menos está ao alcance de todos. O acesso generalizado é outra história. As cidades brasileiras cresceram muito e desordenadamente. Limitar seu tamanho poderia ser uma saída. Mas sabemos que não é possível. O grande problema é que muitos se constituem em aglomerados urbanos e não cidades com um centro bem definido e suas áreas complementares. Seus precários sistemas de transportes ligam suas zonas residenciais a centros maiores, quando em regiões metropolitanas. Trabalhadores levam no mínimo uma hora para chegar ao trabalho, chegando a alguns casos como na cidade de São Paulo, a três horas.
A questão, nesse caso, não está no tamanho e sim na velocidade da ligação. Sem um eficiente meio de transporte a cidade não deveria crescer. Muitas de nossas cidades precisam ser reorganizadas e reestruturadas. A limitação do tamanho não deve passar pelas anteriores fronteiras do campo com a cidade. Nas cidades de grande porte a descentralização pode ser uma saída, dividindo-as em partes menores e dotando cada uma de um núcleo central e organizador. A cidade como conhecemos hoje não pode ser limitada. Brasília nasceu em uma prancheta e foi planejada em todos os seus detalhes urbanísticos e arquitetônicos. Limitou-se inclusive o seu tamanho. Faltou incluir no seu planejamento o detalhe humano, adicionar os interesses pessoais, os coletivos, os nacionais e, atualmente os interesses globais. Somar todos esses interesses, multiplicar por um milhão e colocar na potência de 100. A partir daí poderemos ter um número administrável de interesses para uma cidade e seus limites ou incluímos no planejamento um item a mais, e muito importante: o habitante.
Ricardo Sardo