A arquitetura está embasada sobre dois aspectos: o objetivo que é o de construir um abrigo e o abstrato que trata de sua transcendência. Noutras palavras, uma construção é arquitetura quando ultrapassa a fronteira de simplesmente pretender ser invólucro das atividades humanas.
O vestuário também teve a função inicial de nos proteger, porém faz muito tempo que ultrapassou este limite. O ser humano deixou de vestir-se com peles de animais desde a pré-história e usa roupas como uma forma de expressão. As pessoas vestem-se seguindo uma ordem estética, combinando cores e texturas de tecidos e adereços. Dependendo do tipo de roupa que usamos, estaremos ou não inseridos em um contexto social e na identidade do lugar e do seu tempo. Esses valores fazem transcender a função original das roupas em simplesmente cobrir corpos, conferindo aspectos artísticos e culturais às vestimentas.
Analogicamente temos a mesma situação na arquitetura. As construções, muito mais perenes que outras manifestações culturais, são expressões de uma sociedade literalmente petrificadas. Sabemos que construções como algumas pirâmides egípcias estão lá a cinco mil anos quase da mesma forma como foram erigidas. Seguindo esse raciocínio percebe-se que a arquitetura vai muito além da sua original criação, assumindo outros significados como, por exemplo, o de obra de arte.
O grande desafio do arquiteto moderno é produzir arquitetura com qualidade. A técnica e a arte devem andar lado a lado na concepção de uma edificação; a técnica para encontrar o melhor meio de edificação e a arte através de como essa técnica pode melhor expressar-se também como obra artística. Esse aspecto artístico revela-se em um significado de verdade e, se verdadeiro, em beleza. O arquiteto tem a missão de conferir beleza além da utilidade a um espaço construído. A beleza é parte integrante da vida e está na natureza, tanto é assim que o homem não só a percebe como busca criar e recriar o belo em todas as manifestações humanas.
Qualifica-se com beleza a construção por meio de superfícies, cores e texturas. Os espaços criados que não resultam do acaso ou da pura reprodução sem critérios mais profundos, podem transformar-se em edificações com identidades próprias e uma alma arquitetônica por assim dizer. A beleza promove sentimentos elevados, produzindo bem estar aos homens. A arquitetura deve contribuir para esse bem estar, constituindo-se em ambientes com significados e emoções. A beleza está ancorada em significados como a verdade e a pureza, e a arquitetura, seguindo essa diretriz, transcende do simples ato de construir.