Caderno de Serviço Social – II UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

PLANEJAMENTO E QUALIDADE DE VIDA

        O atual momento brasileiro resume-se em uma palavra: Crise. Crise econômica, social, dos valores, institucional, além de outras. O que nem sempre nos damos conta é que a cidade é o pano de fundo de quase todos os acontecimentos que geram ou são gerados por esses impasses.         A cidade moderna centraliza praticamente todos os fatos importantes e com significados de carácter transformador em todo o planeta. Reflexo e produto de uma sociedade em constante transformação, a cidade não só serve de palco dando suporte aos episódios mais relevantes, como também sente diretamente os efeitos em seu corpo. Sendo o espaço urbano muito mais lento que as mudanças sociais, econômicas e culturais, acompanhar as alterações da sociedade é complicado, oneroso e nem sempre aconselhável.

        O Brasil, como qualquer país emergente, sente muito esses problemas, pois é uma nação com muito ainda por fazer. Em tempos de crise, a instabilidade por ela gerada e o dinamismo natural da sociedade como um todo, dificulta o trabalho na tomada de decisões de qualquer prefeitura ou outro tipo de organismo gestor de conglomerados urbanos.

        O planejamento deve, sem nenhuma dúvida, ser utilizado cada vez mais na tentativa de conter, ordenar e coordenar as forças da coletividade, concentrando em um ou vários objetivos comuns. O plano diretor de desenvolvimento urbano é um instrumento de planejamento utilizado atualmente no mundo inteiro para disciplinar o espaço físico no qual encontra-se uma cidade e seu entorno próximo. Este instrumento de planejamento, através de uma filosofia política e apoiado em estudos técnicos, busca potencializar os aspectos positivos, contornar as carências existentes e prevenir os possíveis conflitos. Diagnosticar corretamente possíveis conflitos futuros seja talvez o mais importante serviço prestado pelo plano, proporcionando uma boa economia de recursos financeiros. A identificação e prevenção de prováveis problemas é vital em qualquer cidade do mundo, quanto mais no Brasil, onde os recursos financeiros são escassos. Infelizmente, os centros urbanos Brasileiros possuem um repertório muito grande desses conflitos mal resolvidos, resultando em tragédias e sangria de recursos enormes para reparos tardios. Uma simples lei de zoneamento poderia evitar a ocupação de áreas de várzeas ou alagáveis, encostas de morros e o povoamento dos dois lados de uma rodovia. Enchentes, desmoronamentos e atropelamentos de moradores tornar-se-iam fatos raros e não algo corriqueiro como em qualquer cidade do Brasil de hoje.

        Não obstante as perdas humanas que ocorrem por tais distorções, os custos para a solução desses problemas são enormes e pago por todos; se quando possíveis de um bom resultado.

        A questão ambiental é outro ponto a ser considerado quando trata-se da organização da cidade. A preservação da vegetação das encostas de morros e dos cursos d’água além de evitar problemas já citados, interferem diretamente no clima do lugar. Estudos indicam que devemos manter um equilíbrio entre a massa construída (edifícios e construções em geral) e espaços verdes, pois a temperatura nos locais construídos é de 20% mais quente que no campo.

        Um bom plano tem o dever de apontar e valorizar os locais potenciais induzindo e favorecendo a sua utilização sempre com predominância de carácter público, elegendo suas principais áreas com belezas naturais ou até criando novos espaços, como foi o caso do lago de Toledo. Na Europa e no Canadá, as cidades atravessadas por rios incrementam esta características ao extremo. Ao longo de orlas tanto de rios, lagos ou mares, existem lugares de lazer e parques, sendo impecavelmente bem cuidados. Os locais impróprios por algum motivo à expansão da cidade são transformados em parques, contribuindo para o bem estar dos cidadãos e gerando divisas através do apelo turístico.

        Um plano diretor urbano é, portanto, fundamental para ordenar os investimentos públicos e privados e com isso gerar recursos através dessas inversões. Organizando o espaço, otimizando a infra-estrutura já instalada, e procurando estimular ou coibir tipos de atividades, ocupações indesejadas e tipos de construções nos diversos segmentos urbanos. Contudo o plano não deve ser um fim em si próprio e nem vir a ser o único instrumento de planejamento. Deve sim ser constantemente monitorado, reavaliado de tempos em tempos, comparando-se as intenções iniciais aos resultados obtidos. As avaliações iniciais e, conseqüentemente, os seus objetivos podem ser alterados devido a dinâmica da sociedade. Ou seja, a cidade é considerada quase um ser vivo, pois constitui-se de pessoas que possuem uma infinidade de interesses que, por sua vez, tem relação direta com o contexto nacional e mais ainda, o global. Mas se o global hoje tem importância, a preocupação com o lugar ainda é o fundamental.

        O desenho vem a ser o último estágio do planejamento global de uma cidade. Ele é o instrumento definitivo, o finalizador. É a concretização do desejo de planejar. As cidades desde a Grécia antiga vem sendo pensadas e planejadas de forma genérica, no máximo, atrevendo-se a tipos de traçados das ruas, porém o desenho urbano ganha força a partir do século XVI, principalmente na França. Grandes avenidas, praças monumentos, parques e até edifícios colocados em posições estratégicas, obedecendo uma lógica preestabelecida pelo arquiteto urbanista foram dando forma a espaços públicos para resolver problemas, atender a algum tipo de carência ou valorizar um aspecto natural. O arco do triunfo em Paris de onde várias avenidas convergem, novas cidades como Brasília e Washington, Londres com o tratamento das margem do rio Tâmisa e o rio Sena na capital francesa, são alguns exemplos de planejamentos bem conduzidos e coroados com soluções brilhantes de desenho urbano. Essas realizações perpetuam o esforço das comunidades envolvidas em resolver os problemas do seu espaço, melhorando a qualidade de vida, gerando satisfação e bem estar e propiciando em um segundo momento, a criação de novos postos de trabalho. Planejar é melhorar as condições de vida, ou como diz o Italiano Vittório Gregotti: – “o projeto é o modo através do qual intentamos transformar em ato a satisfação de um desejo nosso”.

Ricardo Sardo

PENSANDO A GLOBALIZAÇÃO/Cascavel: Edunioste, 1999. Unioeste/PR

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AUTOR

Ricardo Sardo

Ao longo da minha carreira, aprendi que a arquitetura é muito mais do que linhas e formas; ela é sobre conectar pessoas a espaços e criar ambientes que ressoem com suas almas.

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