O desejo do reconhecimento é uma das aspirações mais presentes e antigas nos seres humanos. O culto a personalidade e a vaidade existem desde que o homem resolveu viver em sociedade. A necessidade de afirmação sobre o grupo forçou a criação de formas de expressão como o uso de objetos pessoais, roupas, arte e até a arquitetura. Símbolos usados como um modo de marcar o presente e também a passagem pela vida de uma pessoa.
Vemos vestígios das cavernas do homem pré-histórico se afirmando sobre os animais, tanto só como em grupo, através das pinturas rupestres. A caça era ao mesmo tempo uma necessidade para a sobrevivência e uma demonstração de força e habilidade.
Muitos reis e nobres patrocinaram a arte e, através da pintura em tela, foram retratados inúmeras vezes por seus protegidos. A vaidade desses nobres e também de plebeus ricos, promoveram grandes gênios artísticos que trabalharam a imagem de seus protetores muitas vezes com fidelidade e tantas outras com sarcasmo e ironia. Velásquez ironizou os reis de Espanha de maneira cifrada em suas pinturas e Michelangelo não aceitava a interferência em sua obra nem mesmo do Papa.
A arquitetura prestou e segue prestando serviços às personalidades, aos regimes governamentais e às ideologias. Existem inúmeros exemplos ao redor do mundo e ao longo do tempo. Sabemos dos faraós de milênios atrás pelas impressionantes pirâmides do Egito. Na Índia, o monarca eregiu o magnífico Taj Mahal em memória de sua amada esposa. A arquitetura nesses casos serviu para imortalizar um rei e materializar o amor de um homem poderoso por uma mulher.
Muitos governos utilizam a arquitetura como forma de marcar a sua presença. Quando o poder muda, novas idéias e novos métodos de governar precisam de uma imagem nova para marcar a nova era. A substituição do estilo arquitetônico antigo por um mais moderno foi muitas vezes utilizada com esse objetivo.
Getúlio Vargas em seu estado novo, patrocinou o estilo eclético substituindo o neoclássico da República velha para os novos prédios públicos. Juscelino, nos anos 40 e 50, apontaram para o movimento moderno, catapultando o arquiteto Oscar Niemayer.
Na capital italiana existe quase um monumento para cada Papa, transformando Roma em uma coleção de símbolos dos mandatários do Vaticano ao longo da história católica.
Muitas dessas obras ficaram célebres por sua qualidade artística e histórica, porém na maioria dos casos, o desejo do patrocinante em perpetuar sua memória não resultou em êxito. Se o desejo de Napoleão III ao construir o grandioso edifício da ópera de Paris foi o de consagrar-se a posteridade, teve seu objetivo frustrado. Pois foi o que pensei quando ouvi o guia em Paris referir-se ao famoso edifício em nosso tur por ônibus pela capital francesa. A ópera Garnier, como foi mencionada pelo guia, homenageia o arquiteto e não o imperador.
De qualquer modo a boa arte resultante de ações bem intencionadas ou não, está aí para nosso deleite e o desfrute de todos. Da pré-história até os nossos dias, o que o homem produziu e permaneceu, conta muito mais a glória da civilização do que a história de uma vaidade pessoal.