A QUEM INTERESSAR POSSA

Segundo a definição da wikipédia, o espaço público é um local pertencente e usado pela coletividade. Um dos espaços públicos mais antigos que se tem notícia, a ágora, representava para os gregos, durante a antiguidade, o espírito público onde se exercia a cidadania. As praças, na idade média eram o coração de toda cidade. Lá acontecia todo o tipo de manifestação pública, além de ser um ponto de trocas comerciais. Em todos esses locais existiam uma enorme ligação com sua população formando uma identidade local. Outra definição diz que o espaço público é onde se discutem as questões práticos-morais e políticas, e na qual se formam a opinião e a vontade popular.

A dimensão que damos aos nossos espaços públicos não reflete mais os conceitos acima citados. Nossa ligação fácil com outras partes do mundo através dos meios de comunicação com imagens mostradas todos os dias pela TV e na internet, tanto por informes do noticiário como por anúncios turísticos, nos aproxima de outros lugares, tornando esses quase familiares. Vemos constantemente a praça dos três poderes em Brasília, ou a praia de Copacabana ou ainda imagens da imensidão dos prédios de São Paulo.

A identidade com nossos lugares ficou um pouco esvaziada. A rua vista muitas vezes pela janela do nosso automóvel perdeu a dimensão do caminhar, do percorrer a pé e senti-lá em todos os seus aspectos. Suas inclinações, as árvores e suas cores, o aroma das cozinhas no horário do almoço e tudo mais que pode compor uma rua para nossa percepção na velocidade de uma caminhada. 

A rua e a praça deixaram de ser um lugar de encontro para ser um lugar de passagem. Os shoppings oferecendo segurança e conforto vem substituindo os antigos espaços públicos, porém sem a qualidade de seus antecessores. São espaços sem identidade alguma com a população. O compromisso desses espaços, que não podemos chamar de públicos, é com o consumo e para o consumo, não possuindo ligação alguma com os valores sócio-culturais da comunidade na qual está inserida. 

Mas o que me motivou a escrever esse artigo não foi na descrença do espaço público, já que o vejo tão afastado das suas funções originais, e sim nas possibilidades que ainda possuem. Na última semana ouvi, pela janela do meu escritório, sons de manifestações.  Fui verificar com curiosidade e pude constatar o que acontecia na praça da cultura, aqui mesmo em Toledo. A praça em seu ambiente externo, fazia juz ao seu nome povoando de música apresentada por alunos, acredito. Tocavam seus instrumentos nos jardins, sob as árvores que rodeiam o prédio da casa da cultura implantado no centro da mesma praça. Não me recordo de outra apresentação ou apropriação da praça como local para qualquer tipo de manifestação durante os quase quatorze anos que trabalho no local. 

Essa atitude mostra que com pequenas ações podemos dar uma personalidade local aos nossos espaços. Parabéns pela iniciativa, a quem interessar possa.

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AUTOR

Ricardo Sardo

Ao longo da minha carreira, aprendi que a arquitetura é muito mais do que linhas e formas; ela é sobre conectar pessoas a espaços e criar ambientes que ressoem com suas almas.

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