A MORADIA E INTERVENÇÕES NA PAISAGEM

A notícia vindo do IBGE no mês de janeiro de que cerca de 30% dos brasileiros pagam aluguel não me deixou surpreso. A nossa cultura com relação à casa própria e a necessidade de investimento em algo seguro, levou, ao longo dos anos, a uma mentalidade de morar no que é seu. Nos países que possuem uma economia estabilizada a pelo menos 40 anos, a relação casa própria e alugada é o oposto da nossa. Quer dizer, como eles possuem uma situação mais equilibrada e duradoura, pagar aluguel não se constitue em um problema, pois não acontecem sobressaltos, como grandes reajustes e falta de empregos.

Preocupados ou não com relação à casa própria, todos os governos realizam programas de construção de conjuntos habitacionais para suprir a demanda ou simplesmente equilibrar a pressão imobiliária. 

As intervenções feitas com as construções de novas habitações podem ter um impacto pequeno ou muito grande no universo urbano, tanto no relacionamento com os serviços urbanos e infra-estrutura como na paisagem da cidade. Vários são os exemplos de intervenções sempre seguindo uma lógica própria de planejamento. Essas diferenças resultam em arranjos espaciais e formas diferentes modelando totalmente o espaço urbano.

Londres e Paris seguiram um modelo de edifícios de no máximo de 5 andares, ligados uns aos outros pelas laterais, dando um aspecto na rua de paredões contínuos. O resultado é uma paisagem urbana bastante agradável, já que a escala, ou melhor, os tamanhos dos edifícios não muito altos, se aproximam mais das dimensões humanas. Permitem assim um “clima” mais aconchegante, com muita vida nas vias. Esse modelo se repete por quase toda a cidade, resultando em uma harmonia na paisagem devido ao equilibrado arranjo dos prédios.

O modelo americano priorizou a circulação de automóveis. Levou a classe média para os subúrbios, com uma paisagem de grandes residências isoladas uma das outras em lotes espaçosos. A estratégia do governo local foi a de fomentar a indústria automobilística no pós-guerra. O resultado, apesar de belos jardins e construções opulentas, são bairros com pouca animação urbana, ou seja, espaços públicos com poucas pessoas nos ambientes externos.

A escolha soviética, buscando experiências originais e soluções próprias fizeram surgir construções e espaços urbanos muito pobres esteticamente. A ânsia de negar os valores estéticos ocidentais, devido à ideologia do regime russo da época, fez surgir por lá a impessoalidade, a frieza e o brutalismo formal. Arquitetos, músicos, escritores, artistas e intelectuais sofreram muito durante quase todo o século XX, devido a essa imposição vinda de cima. Percebem-se construções, habitacionais ou não, como grandes monolitos angulosos e rudes, cercados muitas vezes por paisagens medievais, como um gigante que tenta impor-se pela força bruta de suas dimensões contra a beleza simples de pequenas joalherias.

No nosso caso, a ação governamental produziu e continua construindo em lotes isolados, pequenas casas, todas iguais e em grandes áreas, com programas insuficientes, ou seja, não satisfazem totalmente as necessidades de seus usuários. Ao longo do tempo as casas são ampliadas e ganham a “cara do dono”. Só assim o “bairro” formado anos atrás ganha identidade. Antes, quando nascera, parecia mais um acampamento militar, com o alinhamento de barracas lado a lado, do que um núcleo urbano. Uma paisagem árida, triste e pobre do ponto de vista formal. Esse modelo repetiu-se por todo o país ao longo principalmente dos anos 70 e anos 80.

Felizmente hoje possuímos mais recursos, tanto financeiros como também técnicos e profissionais de propormos novos modelos arquitetônicos, estéticos e formais no desenvolvimento das cidades, com as construções de conjuntos habitacionais. Basta acioná-los. Expresso assim um desejo, o de ver nossas cidades preocupando-se também com o seu desenho, criando espaços com muita qualidade e beleza.

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AUTOR

Ricardo Sardo

Ao longo da minha carreira, aprendi que a arquitetura é muito mais do que linhas e formas; ela é sobre conectar pessoas a espaços e criar ambientes que ressoem com suas almas.

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